MOVIMENTOS
Eu estive pensando, e quanto mais eu penso, menos eu entendo. Mesmo assim, pensar é um ato involuntário, e acho que continuarei sempre pensando enquanto estiver por aqui.
E eu estive pensando em Deus, em anjos, santos, espíritos, vida após a morte, guardiões e até mesmo, seres de outros planetas, elementais, demônios, espíritos obsessores. Eu estive pensando na energia que cada um de nós emana e atrai.
E eu andei escutando. Dezenas e dezenas de podcasts sobre espiritualidade, onde alguém disserta com toda a autoridade concedida a eles na maioria das vezes, creio eu, por eles mesmos (embora eles afirmem que canalizam, psicografam, sonham, encorporam, viajam astralmente).
E eu andei lendo. Livros e mais livros, palavras e mais palavras, histórias e mais histórias.
E eu andei percebendo que a verdade se estica, se adapta, é podada, acrescentanda, moldada, encolhida, esticada.
Minha conclusão? No campo das ideias, tudo é possível. Muitas vezes, aquilo que alguém afirma é como uma casa sem alicerces, é como construir um castelo no topo de uma montanha rochosa, sobre o lodo escorregadio, sem plantar pilastras. E assim a fé vai se equilibrando, muitas vezes, desliza penhasco abaixo, se despedaça nas pedras, desaparece na imensidão de um mar revolto e misterioso.
Mas sempre fica alguma coisa, um pedaço de tijolo, uma beira de caminho, uma janela para esse mar.
A minha fé não afirma nada, nem duvida de nada. Se me perguntarem, direi que acredito em anjos, em santos, em fadas, em vida após a vida, e em algum tipo de origem que nos dispersou sobre esse planeta igualmente misterioso. Eu acredito, porque me faz bem acreditar. Eu acendo meus incensos, eu digo as orações que eu conheço e também as que eu invento na hora, eu escuto mantras, eu me sento no jardim e sinto a força da natureza.
Mas acho que a minha maior fé está em abrir os olhos todas as manhãs, preparar o café, trabalhar, cuidar da casa, cuidar dos bichos, cuidar de nós. A minha fé está em, apesar de não saber de nada, de não ter nenhuma certeza, estar aberta a todas as possibilidades. A minha fé não se impõe sobre nenhuma outra, mas se debruça sobre cada uma delas, tentando entender, tentando absorver alguma coisa que faça sentido dentro do meu coração. E assim tem sido a construção da minha fé: um caminho de pedrinhas coloridas que eu construo a cada dia, passando bem no meio de uma floresta que na minha imaginação é feita de árvores antiquíssimas cujas copas se perdem nas nuvens.
Mas eu não sei aonde esse caminho me leva. Sigo por ele, eu o construo todos os dias, e acredito que existe uma força que me diz onde colocar as curvas, quando virar à direita ou à esquerda, conduzindo-me às paisagens certas, sempre perto de um rio cujas águas satisfazem apenas uma parte pequena da minha sede: a que me mantém viva.