Anjo Severo
Meu anjo severo, de duras asas...
As penas caem quando tu voas,
E elas furam os telhados das casas.
Meu anjo de olhar tão frio, tão duro,
Que de soslaio me fita, sempre do escuro,
Lançando uma prece para me proteger;
Anjo imaturo, por acaso sabes
O que é estar no mundo, o que é viver?
Meu anjo da guarda, por Deus indicado,
Será que tu morres de tédio
Ao contemplar esse meu monótono fado?
Tu fechas os olhos, tu bates na testa
Ao ver que ignoro, diante do espelho,
Mais um dos teus conselhos!
Meu anjo severo, eu juro que eu tento,
Eu juro que eu quero,
Mas eu não consigo legar-te trabalho!
E assim, tão cansado de mim,
Tu ficas prostrado por sobre o telhado
Desse meu quarto fechado,
Sem nada a escrever nesse livro pesado
Que Deus te deu.