PETRÓPOLIS
Nasci em Petrópolis. Desde criança, a cidade sofre com enchentes e desabamentos devido à irresponsabilidade tanto dos governantes quanto do povo em geral, que constrói irregularmente em terras invadidas localizadas em encostas totalmente inabitáveis. O poder público jamais tomou qualquer tipo de providência quanto a isso, deixando com que comunidades enormes passem a lotear áreas potencialmente perigosas. A única coisa que fazem, é o que sempre fizeram: emitem os carnês de impostos e certificados de posse das terras, e na época das eleições, sobrem os morros a fim de oferecer sacos de cimento para que as construções continuem acontecendo. É a nossa história.
Quando eu era criança, Petrópolis tinha menos de 200 mil habitantes, e hoje, já passamos dos 300 mil. Crescimento irregular, especulação imobiliária, desmatamento, invasões, corrupção política: tudo isso leva às tragédias que todos temos ouvido falar ao longo dos anos. Sem contar que, para os políticos, isso é maravilhoso, pois decretar situação de emergência significa mais dinheiro entrando nos cofres em época de eleição - e eu não vejo motivo algum para decretarem emergência agora. Totalmente desnecessário. Houve desabamentos, houve quatro mortes, mas nada que justifique o pânico que estão tentando vender, a não ser as verbas que receberão do governo estadual.
E as verbas recebidas da última tragédia, aonde estão? Porque quase nada foi feito. Sequer dragaram os rios ou desentupiram os bueiros, o que seria o básico, e nem mesmo demoliram as casas que permaneceram de pé nas áreas destruídas, isolando-as para que as pessoas não voltem para lá.
Porém, a tragédia prevista para o último final de semana passado não aconteceu. Tivemos enchentes, como todo ano nessa época, deslizamento de terras, desabrigados e quatro lamentáveis mortes, mas nada que justificasse todo o exagero com que o assunto foi tratado, nem todo o pânico espalhado entre as pessoas. O fechamento das escolas, na minha opinião, foi a pior coisa, já que as crianças que deveriam estar nelas foram obrigadas a permanecerem em suas casas, locais de alto risco, muitas vezes sozinhas, pois os pais estavam trabalhando. Ainda bem que a tragédia não foi tão grande quanto nos fizeram crer que seria, ou o número de crianças mortas seria enorme. Elas deveriam ter permanecido nas escolas junto com suas famílias em face de uma tragédia, pois é exatamente para lá que todos vão em situações emergenciais quando perdem suas casas.
Na verdade, o que eu vejo é que nada vai mudar, e com as situações climáticas que temos enfrentado, a tendência é ficar cada vez pior. Estamos nos encaminhando para uma situação de pânico geral, e assim ficaremos todas as vezes que virmos nuvens negras no céu. Eu mesma, após as tragédias de 2021, corria para casa se estivesse no centro da cidade e avistasse uma nuvenzinha negra no horizonte.
Mas o inverno está chegando, e com ele, a amnésia do sol. Daqui a pouco todos estaremos levando nossas vidas anormais (não, eu não cometi um erro, quis dizer ANORMAIS mesmo), e ninguém mais falará no assunto - até a próxima chuva.