NÃO PROCURO NADA
Eu Nada procuro,
Não procuro nada,
Mas há sempre alguma coisa
Que me acha,
Que se esborracha, de repente,
Contra a minha vidraça,
E suja o vidro,
Macula a paisagem,
E trava a minha alma.
Não procuro,
Não procuro nada,
E rezo a Deus, sempre,
Que nada me encontre,
Que nada me ache,
Que nada me afronte.
Mas eu penso
Que sirvo de fonte
Às línguas cansadas,
E sou corrimão
Onde as mãos indolentes
Se apoiam
Tentando subir
As minhas escadas.
Eu não procuro nada,
Não me interessa
Só quero o direito
De permanecer quieta,
Dormir abraçada
A esse dragão tão antigo,
Meu melhor amigo
Que sempre me aquece
E aos poucos, me mata.