MEMÓRIA
Uma tarde morrente.
As últimas luzes tentam iluminar a mesa da cozinha.
A mulher se debruça ao acaso
Sobre as folhas de jornal que embrulhavam os ovos:
Velhas notícias.
Chia a panela de pressão
Enquanto a menina tenta terminar as tarefas da escola.
Mãe e filha ausentes,
Cada qual no seu mundo;
Um mais colorido, outro mais profundo,
Tão profundo, que ela se agarra às boas lembranças
A fim de não se afogar.
A criança, em seu mágico mundo da imaginação,
Entre noves fora e multiplicações
Olha para fora, para as folhas do coqueiro na casa vizinha,
E cria esta memória.